Ampliar o Direito à Educação
Julho 2022
(adaptado de) Relatório da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação, publicado pela UNESCO em 2022
REIMAGINAR OS NOSSOS FUTUROS JUNTOS — Um novo contrato social para a educação
Diante dos intensos desafios que temos pela frente, é cada vez mais urgente que educadores, governos e sociedade civil levem adiante as propostas apresentadas anteriormente para administrar adequadamente a educação em diferentes tempos e espaços. O que se propõe aqui não é um modelo utópico, mas, sim, uma estratégia concreta de sobrevivência da espécie humana.
A educação deve ser chamada para nos reconectar com o sentido profundo e a alegria de viver, da qual aprender é parte fundamental.
Este Relatório afirma a necessidade de se pensar a educação na integralidade da vida. Por mais importante que seja, a educação em instituições como escolas e universidades, não deve ser vista como a única forma.
A educação no seu melhor é um processo colectivo que reconhece o valor da aprendizagem entre pares e intergeracional, bem como da aprendizagem intercultural. Esta dimensão social enfatiza aprender a cuidar uns dos outros, das nossas comunidades e do planeta.
Estes processos coletivos e dimensões sociais precisam existir dentro, mas não apenas, das escolas e universidades. Ao olhar para 2050, será cada vez mais importante que o direito à educação não seja limitado por entendimentos convencionais de quando e onde a educação ocorre. O direito à educação deverá ser aplicado de forma mais clara a todas as pessoas, e não apenas às crianças e jovens. Ele precisará de abordar mais claramente a educação que ocorre em vários locais, e não apenas nas salas de aula e nas escolas.
A utilização da rádio e televisão para apoiar a continuidade da aprendizagem académica dos estudantes durante o fecho das escolas devido à pandemia, lembra-nos da importância dos media para a educação, a cultura e o conhecimento geral, especialmente para estudantes que não têm acesso a materiais online e dispositivos inteligentes. (...)
O direito à educação é apoiado – e, por sua vez, apoia – o direito à informação e o direito à cultura. A liberdade de opinião e de expressão só pode ser mantida adequadamente quando as pessoas têm a capacidade de procurar, receber e transmitir informações e ideias. No nosso mundo contemporâneo saturado de media, repleto de notícias falsas e enganosas, a educação tem um papel essencial a desempenhar no apoio às buscas das pessoas por informações precisas e ao tornar possível o seu desejo de transmiti-las com fidelidade, livre de manipulação.
A educação apoia o direito de participar na vida cultural, fornecendo acesso a recursos culturais que moldam identidades e ampliam visões de mundo. Por sua vez, a educação pode apoiar as habilidades das pessoas para contribuir com os recursos culturais. O diálogo aberto e horizontal entre as culturas é fundamental para apoiar o pluralismo cultural. A educação deve modelar o diálogo como uma das suas muitas contribuições para incentivar o pluralismo cultural.
Ampliar a compreensão do direito à educação em diferentes tempos e espaços reforça a educação como um esforço comum. (...) A educação como um bem comum – um bem-estar compartilhado que é alcançado e escolhido em conjunto – deve estar intimamente conectada ao nosso quotidiano. Crianças e adultos não devem experimentar a educação como clientes ou espectadores, mas como actores. Nós desempenhamos diferentes papéis na educação em diferentes momentos da vida e em diferentes áreas da vida, e nos tornamos parte dela. Todos têm o direito de fazer parte de uma educação que fortaleça o que pensam, sabem, sentem e fazem em suas próprias vidas e que fortalece o que todos fazemos juntos.
Em todos os momentos da vida, as pessoas devem ter oportunidades educacionais significativas e de qualidade. A aprendizagem deve ser ao longo da vida, por toda a vida, com peso e reconhecimento dado à educação de adultos.
Devemos empregar princípios de design inclusivo e iniciar qualquer planeamento com foco em servir os mais marginalizados e os ambientes mais frágeis.
Ecossistemas educacionais saudáveis conectam locais de aprendizagem naturais, construídos e virtuais.
Devemos valorizar melhor a biosfera como espaço de aprendizagem. Os espaços digitais de aprendizagem são agora parte integrante dos ecossistemas educacionais e devem ser desenvolvidos para apoiar os propósitos públicos, inclusivos e comuns da educação.
Plataformas de acesso aberto e open-source, com fortes protecções para dados de estudantes e professores, devem ser priorizadas.
A capacidade do governo para o financiamento público e a regulamentação da educação deve ser fortalecida.
Devemos desenvolver a capacidade dos Estados para estabelecer e aplicar padrões e normas para ofertas educacionais que sejam responsivas, equitativas e defendam os direitos humanos.
O direito à educação deve ser ampliado. Não estamos mais bem servidos ao definir o direito à educação simplesmente baseado na escolaridade. Todos, em todos os lugares, devem ter direito à aprendizagem ao longo da vida.
Devemos apoiar o direito à informação e o direito à cultura como componentes necessários para viabilizar o direito à educação. Um direito à conectividade deve ser incorporado.
Princípios para o Diálogo e a Acção
Este capítulo propôs que, em um novo contrato social para a educação devemos aproveitar e ampliar as oportunidades educacionais que ocorrem ao longo da vida e em diferentes espaços culturais e sociais.
Ao olharmos para 2050, existem quatro princípios que podem orientar o diálogo e as ações necessárias para levar adiante esta recomendação:
1 - As escolas devem ser protegidas como espaços onde os estudantes encontram desafios e possibilidades que não estão disponíveis em outros lugares. (...) Devemos garantir que as escolas reunam diversos grupos de pessoas para aprender uns com os outros.
2- A capacitação colectiva deve orientar o redesenho das escolas. As arquiteturas, os espaços, tempos/cronogramas de aulas e os agrupamentos de estudantes nas escolas devem ser reelaborados para desenvolver as capacidades dos indivíduos para trabalharem juntos. As culturas de colaboração devem permear a administração e a gestão das escolas, bem como as relações entre as escolas.
3 - As tecnologias digitais devem ter como objetivo apoiar – não substituir – as escolas. Devemos aproveitar as ferramentas digitais para aumentar a criatividade e a comunicação dos estudantes. Quando a IA e os algoritmos digitais são trazidos para as escolas, devemos garantir que eles não reproduzam simplesmente os estereótipos e sistemas de exclusão existentes.
4 - As escolas devem moldar os futuros a que aspiramos, garantindo os direitos humanos e tornando-se exemplos de sustentabilidade e neutralidade de carbono. Os estudantes devem ser confiáveis e incumbidos de liderar o caminho para tornar o setor educacional mais verde. Devemos garantir que todas as políticas de educação sustentem e promovam os direitos humanos.
Ao fazer um novo contrato social para a educação, estes quatro princípios orientadores devem ser incorporados. Nos âmbitos local, nacional, regional e mundial, precisamos de nos comprometer com o diálogo e a acção em torno destes princípios e apoiar a reimaginação dos nossos futuros juntos.