Aprender com o Planeta Vivo

Julho 2022
 

(adaptado de) Relatório da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação, publicado pela UNESCO em 2022

REIMAGINAR OS NOSSOS FUTUROS JUNTOS — Um Novo Contrato Social Para a Educação

 

Devemos ampliar a nossa concepção dos locais onde a aprendizagem acontece para além de espaços e instituições centradas no ser humano, para  incluir também parques, ruas da cidade, caminhos rurais, jardins, áreas selvagens, terras  agrícolas, florestas, desertos, lagos, pântanos, oceanos e  todos os outros locais que são locais que vão além da vida humana.

Os seres humanos fazem parte de um planeta Terra vivo. Muitas culturas indígenas de longa data adoptam uma visão apropriadamente ampla  sobre a formação de relacionamentos mutuamente benéficos, envolvendo humanos e não humanos. A biosfera é um importante espaço de apren-dizagem. O facto de que, hoje, as  terras administradas por indígenas abrigam aproximadamente 80% da biodiversidade do mundo é suficiente para demonstrar que as perspectivas indígenas têm muito a ensinar a todos sobre a educação que cuida do planeta.
 

O conhecimento e os ensinamentos indígenas fundamentados na terra e na água, bem como muitas cosmologias africanas e asiáticas, postulam relações nas quais os não humanos são entendidos não apenas como seres com os seus próprios direitos, mas como educadores e professores com os quais os humanos podem aprender em relação.

Em algumas tradições, elementos do mundo mais que humano, são entendidos como mais velhos, mais sábios e merecedores de respeito, e reconhece-se que eles têm muito a nos ensinar. Nas  tradições  da  educação  ocidental  também  há  uma  longa  história  de  abordar  algumas  dessas questões. Os campos da educação baseada no local (place-based), ambiental, ao ar livre e experiencial tentaram criar uma presença para o  mundo natural e o meio ambiente como co-participantes nos processos de aprendizagem. 
 

No entanto, este trabalho muitas vezes posicionou o ambiente como estando ao serviço da aprendizagem dos estudantes. Muitas vezes, os  estudantes aprendem coisas importantes através desses encontros que não aprenderiam de outra forma. Em muitos casos, então, a  relação  humano-natureza não é vista como recíproca e interdependente. Nem é necessariamente uma relação em que os seres não humanos são entendidos como professores com suas próprias formas de agir. Formas mais recentes de educação ambiental e baseada no local, afastam-se dessa posição.

A metáfora da educação “renaturalizada”, baseada na conservação e na restauração ambiental, é particularmente promissora em relação à ideia de  construir a educação de novas maneiras. Muitos dos encontros pedagógicos que estão a surgir  através do diálogo entre os muitos sistemas de  conhecimento e cosmologias do mundo, são igualmente promissores para redefinir a relação entre educação e o planeta vivo como de evolução e  emergência conjuntas com o mundo.
 

Os seres humanos precisam de se entender como seres ecológicos, não apenas seres sociais. Princípios de gestão ambiental que nos posicionam  como “guardiões” e “protectores” da natureza ainda pressupõem uma divisão entre os seres humanos e o seu meio ambiente. A Nossa imaginação ecológica precisa de nos posicionar dentro do planeta vivo.

As crises ecológicas causadas pelo homem exigem um repensar do estudante que está no centro de uma educação orientada para propósitos comuns. A educação não pode visar apenas um estudante cosmopolita idealizado que se sinta à vontade e capaz num mundo interconectado – o chamado “estudante do século XXI” imaginado na educação que normalmente se concentra apenas no desenvolvimento humano.


Para que a educação apoie futuros justos e sustentáveis, devemos promover uma consciência do planetário. O estudante que assume a responsabilidade pela construção do mundo com outros seres deve ser colocado no centro da educação. (...)

A educação para a cidadania global, em particular, deve estar sintonizada de maneira profunda com essa consciência do planetário. Reequilibrar nossas relações com o planeta vivo, exige que reaprendamos as nossas interdependências e reimaginemos o nosso lugar e capacidade de acção humanos.
 

Muitas culturas sabem há séculos ou milênios, que não podemos separar a humanidade do resto do planeta. Por exemplo, a  noção quíchua de Sumak Kawsay concede direitos à natureza e descreve um modo de vida ecologicamente equilibrado.

Os princípios de relacionalidade (eu sou porque somos) da filosofia Ubuntu, encontrada nos povos Ngunis, pertencentes aos Bantus, tem muito a oferecer, assim como a ética budista de Karuna (compaixão), apenas dois exemplos dos ricos recursos culturais nos quais a humanidade se pode inspirar. (...)

Como  viveremos  em  2050  como  parte  da  Terra  em  consonância com os princípios de harmonia, bem-estar e justiça? No âmbito mundial, ainda não temos todas as respostas. Uma educação enraizada na totalidade da vida deve ser uma das nossas principais  ferramentas  para  encontrar  soluções  juntos.

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