Culturas Regenerativas - A Esperança não é algo que se Tem, É algo que se Faz

Março 2023


 

Gregory Bateson acreditava que os maiores problemas do mundo se devem ao resultado da diferença entre:

- Como a natureza funciona;

- Como as pessoas pensam.

Não querendo fazer parte do bloco dos “buscadores de culpados” e/ou dos desiludidos com a Humanidade, é no mínimo estranho, que exista cada vez mais clareza sobre os riscos complexos que enfrentamos, enquanto organismo global vivo, e que continuemos os nossos estilos de vida, práticas económicas e agendas políticas (e sociais) como se nada se passasse (com todo o respeito pelas genuínas intenções e trabalho/serviço dedicado).

Embora vejamos “os outros” a morrer, e saibamos que a morte é uma visita garantida, há uma certa dificuldade em aceitar que ela chegará a nós.
 

Vanessa Andreotti Professora e Investigadora cujo trabalho admiro, pela sua importância, sobretudo no ecossistema educativo - que continua a educar para a competição, diz-nos que “os nossos actuais problemas globais não estão relacionados com a falta de conhecimento, mas sim com um hábito de ser inerentemente violento da modernidade colonial.

Quatro negações estruturam este hábito de ser:

1 - A negação da violência sistémica e a cumplicidade no dano (o facto de que as nossas comodidades, garantias e prazeres são subsidiados pela expropriação e exploração noutro lugar);

2 - A negação dos limites do planeta (o facto de o planeta não poder sustentar o crescimento e o consumo exponencial);

3 - A negação do enredamento (a nossa insistência em vermo-nos como separados uns dos outros e da terra, em vez de "enredados" num metabolismo vivo mais amplo que é bio-inteligente), e

4 – A negação da profundidade e magnitude dos problemas que enfrentamos: as tendências:

a) para procurar "esperança" em soluções simplistas que nos façam sentir e parecer bem;

b) para nos afastarmos do trabalho difícil e doloroso (por exemplo, para nos concentrarmos num "futuro melhor" como forma de escapar a uma realidade que é percebida como insuportável).”

(Gesturing Toward Decolonial Futures, Vanessa Andreotti).
 

Desligamo-nos de tal forma da lógica da vida, que apesar dos sinais de alerta à nossa frente, e em nós próprios enquanto parte do organismo vivo global, continuamos a caminhar mecanicamente, incapazes de parar, reformular perguntas e reflectir.

Entre a polaridade que acha que o cenário é exagerado e vive como se nada se passasse e a que acha que o mundo vai acabar, há uma esperança - que é activa.
 

Joanna Macy e Chris Johnstone falam-nos sobre as três Histórias do nosso tempo:

1. Business as Usual – abordei-o no meu primeiro artigo, e tem a ver com este “continuar a viver como se nada se passasse”;
2. O Grande Desmoronamento – uma visão apocalíptica, que tende a bloquear-nos e/ou a adoptar caminhos radicais;
3. A Grande Viragem – que não nos traz promessas, nem certezas, mas que traz acima de tudo clareza, vontade e coragem.

A esperança activa é uma prática.“...É sobre tornarmo-nos participantes activos na realização daquilo que esperamos.” (Active Hope, Joanna Macy e Chris Johnstone).
 

Quando falamos em Culturas Regenerativas, é altamente provável que os seus Aprendizes-Praticantes se revejam e caminhem para esta “grande viragem”, que essencialmente nos traz 3 Dimensões em que podemos intervir:

1. Acções de contenção: Para desacelerar os danos à Terra e Seres que nela vivem;
2. Práticas e Sistemas que Sustentam a Vida: Transformação das fundações da nossa vida comum; 
3. Mudança de Consciência: Na visão do mundo e nos valores.
 

E o que dificulta esta “grande viragem”:

- Os pressupostos da sociedade de crescimento industrial;

- A ilusão da separação;

- A falta de percepção do meu papel no todo maior e sua inter-relação (a tendência para no vermos na “equipa dos bons”);

- Pensamento dual e mecanicista;

- O paradigma antropocêntrico;

- Foco no problema e no problem solving, isolando as questões em silos e perdendo de vista o sistema maior;

- A massificação e uniformização de Políticas e Programas (baseada na falta de conhecimento e respeito pelos Lugares);

- A centralização do poder de decisão, escolha e influência numa camada que se considera mais preparada, experiente e inteligente e que não dá lugar a uma escuta, participação e cooperação equilibrada e necessária.
 

Há ainda uma tendência para continuarmos a ver o activismo como um papel específico centralizado em determinados sectores ou pessoas. Esta tendência não é só baseada na visão tradicional, ela está ligada a esta desresponsabilização e negação.

Todos nós somos agentes de mudança. Activismo é activar o meu estado de agência.

Fazendo-nos perguntas simples, e difíceis, como:

- De que forma estou a relacionar-me com a vida?;

- A partir de onde estou a operar?;

- A forma como estou a viver serve a mim, à minha família, à minha equipa, à minha comunidade, ao planeta?;

- Como é que posso activar o meu estado de agência?.
 

Este exercício franco, regular e feito a partir de um lugar de humildade e verdadeira abertura ao caminho da cooperação, para que não se caia no radicalismo e moralismo da busca de culpados nem nos riscos do “grande desmoronamento”, é o convite que deixo a tod@s nesta edição.

Lembrando que, para nos reconectamos com os princípios da Vida, é preciso antes de mais, parar, respirar fundo, abrir-me ao “não saber”, ouvir outras vozes, reformular as perguntas, e acima de tudo, habitá-las, sem pressa de lhes encontrar resposta.

Com a leveza, humildade, ânimo e coragem do Aprendiz-Praticante, que tem consciência que, ao seu alcance está apenas activar o seu estado de agência, na sua esfera, no seu lugar. E que muitas “pequenas esferas e lugares”, são importantes e têm poder.


Revista Economia e Mercado Moçambique, Edição de Fevereiro

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