Design Salutogénico
Junho 2023
O design ecológico, provedor de saúde (salutogénico) e de interligação em diferentes escalas que visa a resiliência e a saúde sistémica, não é uma inovação recente. Esta abordagem surgiu ao longo do século passado (...).
Em sistemas socioecológicos (SESs), os efeitos das nossas ações só podem ser observados e compreendidos após longos períodos de tempo. Em tais sistemas dinâmicos complexos, a causa e o efeito geralmente não são lineares, com ciclos de feedback que levam a escalonamentos repentinos, consequências imprevistas e efeitos colaterais. O que determina a mudança num SES ao longo do tempo são, principalmente, as variáveis sujacentes que mudam lentamente, como clima, usos do solo, quantidade de nutrientes, valores humanos e políticas, bem como sistemas de governança e interdependências entre escala, local, regional e global. Os SESs nunca existem isoladamente; eles são localizados dentro de uma estrutura de ligação de escala ou holárquica de outros SESs.
Como criamos designs para a resiliência à escala comunitária, e biorregional, bem como nacional e global? Ao tentar criar sistemas mais saudáveis. capazes de uma resposta transformadora adequada para interrupções e crises súbitas, precisamos prestar especial atenção à forma como as soluções propostas são interconectadas à escala espacial e temporal. A ação de escala espacial conecta indivíduos, comunidades, ecossistemas, biorregiões e nações até à escala planterária (e além). A interligação em diferentes escalas temporais, pode ser entendida como a maneira como processos lentos e rápidos interagem.
Muitos dos factores que causarão uma perda de resiliência numa escala específica, por exemplo, dentro de uma comunidade e do seu ecossistema local, também afectarão a resiliência em outra escala, ao nível nacional ou planetário. Ações localizadas como a combustão de combustíveis fósseis, podem acumular-se e ter efeitos globais como a mudança climática, o que, por sua vez, pode afetar as condições locais de múltiplas e imprevisíveis maneiras. Essa é a natureza do sistema hierárquico interconectado na sua essência (holarquia) em que vivemos.
Entre os factores que podem degradar a saúde sistémica em múltiplas escalas estão: perda de biodiversidade, poluição tóxica, interferência no ciclo hidrológico, degradação dos solos e erosão - mas também instituições inflexíveis, subsídios perversos que atuam como incentivos para padrões insustentáveis de consumo, e medidas escolhidas inadequadamente, que se focam na maximização de curto prazo da produção e aumento da eficiência na perda de redundância e diversidade no sistema como um todo.
A narrativa (re)emergente do interser ajuda-nos a entrar no contexto de um todo complexo interconectado e em constante transformação na sua essência. Como Seres Humanos, moldamos e somos moldados pelo processo evolutivo da vida. As nossas ações e design mudam o mundo. O mundo que cocriamos, por sua vez, molda a experiência atual e o nosso futuro coletivo. Nas perpectivas de muitas culturas indígenas, criar relacionamentos de cura é visto como um acto sagrado. O design salutogénico e de interligação, em diferentes escalas, também é design sagrado. Expressa a nossa conexão significativa (interser) com esse todo transformador, pela maneira como participamos da nossa comunidade humana e da comunidade da vida. Essa perspetiva participativa também pode ser encontrada nas "novas ciências" como a noção de participação adequada em sistemas complexos.
Em última análise, a mudança para uma civilização humana regeneradora e o aumento da saúde humana e planetária, exigirá que a maioria dos cidadãos globais, assuma total responsabilidade pelo seu envolvimento cocriativo na formação do futuro da humanidade e do planeta. Em maior ou menor grau somos todos designers desse futuro.
Fonte: Design de Culturas Regenerativas, Daniel Wahl