Agosto I Ophiussa

Agosto


Ophiussa - Uma Deusa. Uma Serpente. E a Rainha de Lisboa que enfrentou Ulisses.
Samuel F. Pimenta 


 

“Antes da chegada dos impérios ao extremo ocidente, na cidade hoje conhecida por Lisboa, habitavam os herdeiros dos edificadores das grandes construções de pedra. Viviam seguindo os ritmos da terra, dando continuidade ao labor agrícola iniciado pelos antigos e organizavam-se em pequenas povoações fortificadas. Haveriam de lhes chamar de Ophis e, ao território que ocupavam, terra das serpentes. Pois era a serpente, como entidade tutelar da terra, que adoravam, e era a serpente a quem serviam, como Deusa e Rainha. Ela vestira-se com corpo de humana para conviver com os mortais e quase nunca revelava a sua verdadeira face. Recebera o mesmo nome da terra e da cidade, onde lhe haviam erguido um trono para continuar o legado da tradição das grandes Mães. Chamava-se Ophiussa e por se ter entrelaçado tanto ao destino do seu reino, nem o tempo a fez sucumbir, tornando-se mito.”
 

Um romance mitológico de Samuel F. Pimenta, publicado pelas Edições Mahatma, que reinterpreta o mito da fundação de Lisboa e das suas sete colinas, partindo da tradição oral alfacinha e revisitando obras como a Odisseia, de Homero, a Ora Maritima, de Avieno, ou Crónica do Imperador Clarimundo, de João de Barros.

Ao lado do encontro de Ophiussa e de Ulisses, o autor conta-nos também a história dos primórdios do patriarcado e do culto dos impérios, cujo legado ainda afeta as sociedades contemporâneas.
 

“Estamos no alto da Penha de França. Reza o mito que daqui se partiu um monte em sete, esculpindo-se as colinas de Lisboa com a força do corpo irado de Ophiussa – a mulher metade serpente que dominava Lisboa antes de o ser e que dava nome àquela “terra de serpentes” onde “os povos adoravam a serpente”. A rainha tivera enfurecido com a partida de Ulisses. Mas sobre este herói da mitologia grega já ouvimos e lemos quase tudo. Agora, é através do olhar desta personagem feminina, tantas vezes posto para segundo plano na história da cidade, que partimos para o novo romance de Samuel F. Pimenta: “Ophiussa“. 

Conta-se, nos livros e nas ruas de Lisboa, que Ulisses ludibriou a “pérfida Ophiussa”, ao fazer-lhe promessas de futuro próspero, mas depois “escapando-lhe, pois ela era uma mulher metade humana, metade serpente, que engolia os marinheiros depois de os atrair para o leito”. E que, nesta história, está então a origem da ira da Rainha e, depois, do mito da fundação de Lisboa.


Mas a pergunta que reescreve o mito e torna-se livro é simples: “terá sido assim”? 

Este é um romance mitológico em que Samuel F. Pimenta convoca justiça para a história desta personagem de Lisboa e de todos os que já viviam em Lisboa antes de Ulisses chegar.

(A entrevista completa de Leonardo Rodrigues ao Autor aqui)


 

Também eu, do outro lado do mundo, refletia tantas vezes sobre as coisas que as minhas amigas (e algumas figuras de referência de então), escreviam. Quase sempre baseadas na mitologia grega, romana. Ou também em referências oriental, hindu, xamânica. Que não faziam sentido nenhum do outro lado do mundo. O mesmo com as técnicas de desenvolvimento pessoal que eu tinha aprendido, e que não serviam nem à maior parte das pessoas com quem agora eu trabalhava, nem a mim mesma.


Sobretudo desde a minha saída de Portugal em 2012, foi-se tornando claro, o quanto o meu “conhecimento” e imaginário estava colonizado e fragmentado. O quanto o sistema e o anti-sistema, eram faces de uma mesma ferida maior e coletiva.

E o quanto a romantização de uma new age já instalada em Portugal desde o início do século, assentava em camadas mais profundas, que era preciso escavar.

Inclusivamente, Autores como o Joseph Campbel que supostamente tinham investigado e sistematizado, práticas distintas, começavam a cair por terra, com perguntas tão simples como: "Foi um branco de lá que escreveu isso aí Susy?"
 

Aquilo que antes eu já intuía ou sabia, através de canais formais e não formais, foi-se tornando impossível de ignorar, camada após camada.

Todo esse património silenciado, negligenciado, distorcido, aniquilado, inundava-me, invadia-me todos os poros, até se tornar estridente. Até se tornar impossível de ignorar.


Determinados Lugares, mostravam-me fragmentos da história não contada. Tantas vezes a minha própria história se entrelaçava com a do lugar. Deixando-me confusa, sobre o que era meu e o que era do lugar, do campo.

Se por um lado a linguagem simbólica acompanhava a minha viagem, interna e externa, o corpo era (e sempre foi), o meu sensor, o meu termómetro, o meu laboratório experimental. Atravessado por tanto grito, dor, terror, mas também por tanto amor, tanta coragem, tanto espanto, tanta vida.


Desde então, e tendo muitas pessoas queridas à volta, fascinadas (e obcecadas) com o Império (o quinto e não só), com um “Cumprir Portugal” distorcido, claramente patriarcal, imperialista, e tão distante da “nova consciência” que apregoa, que tenho adiado trazer a público algumas das histórias, pelas quais fui (e sou) atravessada.


Hoje, parece-me um bom dia, para começar, devagarinho e com uma história que não é minha (Ou será de todos nós?), a partilhar, histórias subterradas, distorcidas, fragmentadas, vividas.

Jamais na tentativa de apontar culpados, vítimas, ou agressores. Tão pouco salvadores. 


Há 2 anos atrás, uma querida amiga casou nas “Noivas de Santo António” e tivemos a maravilhosa oportunidade de visitar a atual Câmara de Lisboa nos Paços do Concelho, anfitriada por uma Guia experiente e “historicamente documentada”, que nos guiou pelas histórias e mitos, acompanhada de toda a heráldica municipal. No final da visita, e por franca curiosidade e espanto, perguntei-lhe onde estava Ophiussa? Percebi-lhe um desconforto, que não quis esmiuçar. A minha pergunta não tinha nenhuma intenção provocadora. Pelo contrário. Tinha um misto de tristeza e de afecto. Estamos todos enredados neste apagão e distorsão da história.


Há 5 anos atrás, eu própria abri o portão, a uma serpente enorme num dia quente de verão. Veio certamente refrescar-se no meu jardim, acabado de regar. Já tinha visto tantas em África, mas aquela dentro do jardim, disparou-me uma palavra que não me lembro de alguma vez ter gritado na vida: Socorro!

Por fim, não poderia deixar de partilhar este contributo precioso da Sofia Batalha sobre Ophiussa 

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