A Leitura do Mundo precede a Leitura da Palavra
Maio 2022
Helena Águeda Marujo
Titular da Cátedra UNESCO em Educação para a Paz Global Sustentável
Professora Associada do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
"A leitura do mundo precede a leitura da palavra" - Paulo Freire
A educação em todas as suas formas - formais, informais, ao longo da vida, em academias empresariais, em diferentes fases da vida, dos mais novos aos mais longevos - tem sido, progressivamente, mais e mais discutida, reavaliada e posta em causa. A educação que temos hoje não nos serve. Não serve os estafados Professores e Educadores, que se dão de forma dedicada até à exaustão, não serve os alunos e alunas, que cada vez mais sofrem com a experiência escolar, destapando ansiedades e pavores de insucesso na escola e na vida, não serve a sociedade porque não prepara para o mundo actual.
Por isso o aPAZiguar de hoje, nos convida a uma dolorosa reflexão sobre as consequências da educação que temos, e de, como a mesma tem aumentado a desigualdade, impedido o florescimento humano, limitado e fragilizado a formação tão urgente de lideranças servidoras e viradas para o bem comum, criando um cidadão inapto para a vida presente e para o futuro incerto, que não permite tréguas.
Se não, vejamos os resultados do projecto do Mahatma Gandhi Institute of Education for Peace and Sustainable Development:
1. Apesar dos avanços em alguns segmentos em todo o mundo, as políticas educativas exacerbaram involuntariamente a desigualdade, estabelecendo novas formas de elitismo e uma mentalidade centrada no individualismo.
2. O actual enfoque da educação no capital humano (alfabetização e numeracia) não é o ideal para o florescimento humano. A política e prática educativa centrada no desempenho académico, em vez de o equilibrar com as competências sociais e emocionais, levou a um declínio no florescimento humano e social.
3. A meritocracia tem tido um efeito contrário ao desejado, criando uma nova forma de exclusão educacional, social e económica sob o pretexto de credencialismo e exacerbando resultados injustos.
4. As actuais avaliações dos aprendentes centradas em exames sumários, padronizados, calendarizados e "de tamanho único" não são definitivamente ideais para a aprendizagem e o florescimento humano.
5. As despesas educacionais requerem uma análise mais atenta ao "quê", "como", "quando", "onde" e "para quem" dos investimentos feitos, para que se consiga maximizar os retornos na educação para o florescimento humano e assegurar resultados equitativos para todos.
6. Foram estabelecidas políticas educativas inclusivas, mas que não resultaram na igualdade de oportunidades para grupos marginalizados com base no género, etnia/raça, orientação sexual, deficiência e neurodiversidade.
Seguem-se algumas soluções propostas, e que gostaríamos de convidar a implementar, como proposta reflexiva (...):
- Reorganizar currículos, pedagogias e avaliações de aprendizagem em direcção a uma educação centrada no cérebro inteiro (e não apenas na cognição) e socialmente inclusiva, para conseguirmos atingir o florescimento humano de todos, que enfatiza a interconectividade em vez do isolamento entre cognição, metacognição e aprendizagem socioemocional.
- Substituir o credencialismo e a meritocracia que coloca os indivíduos uns contra os outros por uma potencialidade que se concentra no investimento em si mesmo, e na avaliação do autocrescimento ao longo do tempo.
- Implementar os seis domínios curriculares essenciais (ambiente, cultura, sociedade, tecnologia, relações interpessoais e self) para uma experiência de aprendizagem rumo ao florescimento humano.
- Apoiar e reforçar parcerias escola-comunidade para promover currículos mais localizados e baseados no local específico onde a aprendizagem acontece, por forma a ligar a aprendizagem aos problemas do mundo real que os alunos enfrentam diariamente.
- Re-organizar o financiamento da investigação em educação para permitir programas de investigação verdadeiramente multidisciplinares, em larga escala e globais.
Porque "Educar a mente sem educar o coração não é educação." (Aristóteles, filósofo grego), nele reside o grande segredo do aperfeiçoamento humano.
Fonte: E=GPS Education for Global Peace Sustainability