Mohomede Saide: Moçambique Precisa de uma Força Motriz que Guie o País
Junho 2023
Natural do extremo norte de Moçambique, da cidade de Pemba, Mohomede nasceu e cresceu no bairro de Paquite. Em Pemba completou os estudos básicos e, a partir daí, não mais parou: licenciou-se em Sociologia, em Maputo, e fez o mestrado em Desenvolvimento Rural no Brasil, e em 2021 recebeu uma Bolsa Gulbenkian para fazer um doutoramento em Agronegócios e Sustentabilidade na Universidade de Évora, cujo tema da dissertação é “Estudo de Práticas de Adaptação à mudança climática em Agricultores Associados no Sul de Moçambique”.
Ganhou o gosto pela pesquisa social aplicada e quer fazer investigação científica e académica, mas o seu sonho é dedicar-se às "questões climáticas, de agricultura, ambiente e desenvolvimento".
Em resposta à pergunta "Como é que tornamos as comunidades resilientes aos efeitos das mudanças climáticas?" , Mohomede diz "Moçambique, que é um mundo essencialmente rural, também é um dos países mais afetados pela mudança climática a nível do continente. O meu interesse sempre foi o de procurar intervenções induzidas ao meio rural para gerar processos de transformação, de forma sustentável e continuada, e que gerem resultados no continente e no resto do mundo."
Está inclinado a focar-se mais "na área da agricultura, sobretudo em investigação agrária e práticas para lidar com eventos climáticos extremos (como a seca). Tenho muito interesse em entender como é que regiões propensas a mudanças climáticas se foram adaptando, quer do ponto de vista das práticas mais estruturais quer das marginais. Gostaria de afunilar a minha investigação profissional e depois fazer parte de redes de investigadores e empresas ou entidades que estejam interessadas nesta área temática.".
Muitos dos jovens Moçambicanos com bolsas e/ou oportunidades de relevância no estrangeiro, acabam por não regressar ao seu País de origem. Mohomede diz no entanto que está muito tentado a contrariar estereótipos, nomeadamente "o do jovem africano que emigra e fica na Europa. Moçambique precisa de uma força motriz que guie o país, precisamos de jovens inovadores e com horizontes, da minha área, mas também de outras – das artes, da cultura, da ciência, da tecnologia."
Pertence a uma família de nove irmãos e foi o primeiro com o ensino superior completo, e acrescenta "Moçambique é um país com muitas dificuldades e limitações no acesso ao ensino, sobretudo nas zonas recônditas/rurais. Temos profissionais de saúde e educação que fazem um esforço titânico; pertencem a um país onde temos de nos esforçar o dobro para alcançar as coisas."
Quando lhe perguntam se quer salvar o mundo, a resposta também se afasta da narrativa Heróica comum:
Existem várias formas de salvar o mundo (...) acho que dentro do meio que me rodeia isso é possível e vamos criando pequenos movimentos, bolhas de esperança. Não unicamente com um pacto global, mas com pequenos acordos locais, respeitando as especificidades culturais e sociais das pessoas que compõem os lugares, formando acordos informais como base, olhando no olho e sonhando um mundo melhor… isso é que me interessa. Não me interessa reunir 200 pessoas em Genebra e discutir como vamos salvar o mundo, interessa-me reunir 10 pessoas dentro de um quarteirão e decidir como é que conseguimos uma melhor via de acesso para aquele lugar, como é que conseguimos água potável, alimentar famílias de maneira saudável, com educação para todos, roupa limpa e livros para ler. Existe um nível micro de como podemos salvar o mundo; nisso sim, eu acredito.”
Fonte: Gulbenkian.pt (adaptado de)