Compreender o Sentimento como o Princípio de Toda a Vida
Janeiro
“Naquele prado arborizado, reflecti que uma planta (ou árvore) não é apenas o resultado de todas as influências do passado que sobre ela actuaram. (...)
Quando um novo trecho de casca cresce em torno de um abrasão causado por uma peça de arame farpado instalada descuidadamente, podemos testemunhar a causa (a ponta afiada), o efeito (os ferimentos na planta), mas também a experiência viva (a forma como a árvore lidou com o fio, formando um tecido cicatrizado à sua volta, uma protuberância da casca).
Os organismos formam cicatrizes sobre as suas lesões e, ao fazê-lo testemunham os danos originais, bem como a sua auto-cura. Eles abraçam o seu passado, fazendo dele o núcleo do seu presente. Os seus corpos são este passado. Mas o seu crescimento visível e resoluto também fala ao seu futuro. Algo imaterial procura expressar uma forma necessária.
A realização desta forma, um gesto do presente, é um sinal de vivacidade.
Eu estava a pensar que se a física da vida só pode ser adequadamente expressa em termos de interioridade e sentimento, esta dimensão deve necessariamente também ser visível como uma realidade física. Se os seres vivos se realizarem como eles próprios, regulando o fluxo da matéria através das suas identidades, de acordo com algumas necessidades profundamente sentidas, então o assunto que compreende um organismo, deve expressar esta subjectividade. Deve demonstrar sentimento. Deve decretar interioridade (inwardness). Deve ser a própria interioridade cristalizada.
Poderíamos até dizer que ao incorporarmos o sentimento, a forma permite-nos sentir os traços da subjectividade vivida nos outros seres vivos.
A sua subjectividade é diferente da nossa no detalhe, mas não no princípio.
Se isto for verdade, a natureza não pode ser vista como um cenário mudo de uma série interminável de reacções de causa e efeito, mas antes, deve ser entendida como um meio ricamente articulado e expressivo.
O sentimento de um organismo, a sua interioridade, é acessível através da sua presença corporal.”
The Biology of Wonder – Alieveness, Feeling and the Metamorphosis of Science
Andreas Weber - Biólogo e Filósofo Alemão que defende que precisamos deixar cair a visão neo-darwinista de que a sobrevivência e a reprodução são os únicos imperativos evolutivos. Weber argumenta que este reducionismo científico perde uma história muito mais rica sobre reciprocidade, beleza e até amor. "Amar significa estar plenamente vivo".
Em The Biology of Wonder, o cientista Andreas Weber revê o enigma fundamental da vida, desafiando-nos a compreender o sentimento como o princípio de toda a vida, argumentando que todos os seres vivos, como os humanos, não são máquinas biológicas, mas agentes vivos e criativos alimentados pelo significado e pela expressão.
Weber propõe uma nova abordagem - o desenvolvimento de uma "ecologia poética" - que liga intimamente a nossa espécie a cada ser e sustenta toda a gama da experiência humana. Ele argumenta que sentimentos e emoções, longe de serem supérfluos para o estudo dos organismos, são o próprio fundamento da vida.
A cisão entre nós e o mundo natural é indiscutivelmente a causa raiz da maior parte das catástrofes ambientais que se desenrolam à nossa volta. Até que nos conformemos com as profundezas da nossa alienação, não conseguiremos compreender que o que acontece à natureza também nos acontece a nós.
O trabalho demonstra que a nossa ligação à teia dinâmica de relações interligadas da Terra sustenta toda a gama da experiência humana, dando origem a um novo ethos ecológico, e demonstrando que a subjectividade e a imaginação são os pré-requisitos da existência biológica.