Setembro - O Mês de Virgem, da Mãe e de Novos Ciclos

Setembro – O Mês de Virgem, da Mãe e de Novos Ciclos
O mês de Setembro atravessa-nos, este ano em particular, com um claro convite a uma renovação, guiada pela energia Virginiana.
Um virar de página.
Um ponto final nos resquícios do que não serve mais.
Uma purificação do recipiente que somos – mental, emocional, físico. Não porque somos impura(o)s ou pecadora(e)s, mas porque se desfazem como castelos de areia, todas as estruturas que já não têm sustentação interna.
O mesmo se passa coletivamente.
Ainda inspirada pelo momento simbólico e maravilhoso do meu aniversário, no dia 11, quero partilhar em primeiro lugar, a minha absoluta entrega e devoção à Vida e ao Feminino.
Não o Feminino distorcido, que se olha apenas sob a lente da Mulher, ou apenas sob a lente da “Mãe”, ou um outro “papel isolado”.
Mas o Feminino potente, que é Vida a pulsar, que sustenta toda a criação, que guarda os padrões originais do Universo.
O futuro é Feminino. E também por isso, sob tantas formas, o feminino está a ser tão violentado.
Quando digo que o futuro é feminino, não me refiro a um futuro de Mulheres, ou a um combate ao Masculino. Pelo contrário, refiro-me ao fim de uma era Patriarcal, opressiva, repressora, dilacerante.
Começando pela própria distorção do arquétipo de Virgem.
Na antiguidade, a palavra Virgem estava mais conotada com a Mulher que é inteira em si mesma, a mulher que não “pertencia” a um homem específico. A Mulher soberana do seu corpo, do seu destino. Conetada com os ritmos da vida, com a terra, com o submundo e com o mundo subtil. Conetada com o poder pessoal e impessoal, e naturalmente compreendendo e vivendo a sua sexualidade de forma livre, nutridora e muitas vezes ritualística. Um canal puro para atingir estados ampliados e até alterados de consciência e para a transformação.
Com o Cristianismo e o Patriarcado, a Virgem foi distorcida, conotada com castidade, com submissão, com pureza, com o arquétipo da Mãe apenas, deixando de lado muitas facetas da Deusa.
A devoção à Vida, a entrega ao Mistério, a sabedoria do corpo e do solo, dos ciclos, da alquimia e da cura, foram sendo perdidas, aniquiladas, negligenciadas.
O resgate do selvagem, do primordial, que nos atravessa e que permanece, é feito ao ritmo de cada uma, sempre com a sustentação da Mãe Universal, desse Feminino Potente que nos habita.
E fazendo-o, continuamos a ter de conviver quotidianamente, com a violência, de formas distintas.
Há um cansaço em mim (e uma falta de paciência), para tudo o que é bruto, violento, conservador, rígido, extrativista.
Li uma frase há pouco tempo (e lamento não me recordar do nome da(o) Autor(a)), que dizia algo como: “Porque é que se diz sempre que o Feminismo está a deixar os Homens para trás, em vez de, a Misoginia faz com que as Mulheres se retirem?”
Retiro-me em consciência dos mundos brutos que posso. Ofereço o meu cuidado e amor aos Lugares internos e externos que sinto, a cada momento. Deixando naturalmente, que eles continuem a atravessar-me (não é na verdade algo que possa propriamente escolher). Mas sustentada pela inteireza da Virgem. Pelo fogo do Espírito. Em comunhão com os meus núcleos internos. Ensopada pelo Campo-Paraíso que me banha como oferenda única.
Movo-me delicadamente, entre o caos e o silêncio, deixando que a Mãe Universal se manifeste como uma força harmonizadora, que busca restaurar a ordem e o equilíbrio nos ambientes à minha volta. Mas firme e em paz em fechar a porta a todo o tipo de violência, abuso, desequilíbrio. Na Família, no trabalho, nos projetos em que me movo, nas amizades e relações desnutridas, nos combates do mundo real, virtual e subtil.
Tudo o que ficou desvitalizado, se desmoronou e deixou de ter qualquer tipo de sustentação interna, simplesmente se desvaneceu. Deixou de ter espaço interno.
A compaixão, o serviço e a devoção, são muito naturais e profundos em mim. Não são características da Personalidade, são expressões do meu Ser mais profundo.
Mas o Feminino mais potente, veio sem dúvida instalar-se, dissipando véus de ilusão.
A tensão vai aumentar. Os nossos corpos vão ser pressionados ao limite. Não vai chegar nenhum Salvador. E notem que a Grande Mãe não é só bondade e amor universal. Nenhum de nós quer ver a Mãe verdadeiramente feroz.
Vamos precisar (regressar a), re-imaginar um mundo mais Feminino. E eu continuarei dedicada a esse sacro-ofício.
Mas definitivamente, retirando-me dos mundos brutos. E a partir de um lugar novo, tanto interno, quanto externo.
Susana Cravo