Maio I Generosidade e Economia da Dádiva

Maio




Generosidade e Economia da Dádiva

Nipun Mehta
 

Num primeiro nível, no nível pessoal, tu fazes pequenos atos de gentileza, e esses pequenos atos de gentileza criam um tipo de quietude mental. Tu beneficias disso, e há um efeito em cadeia que se espalha pelo mundo — e isso é algo muito bonito.

Num segundo nível, quando esses efeitos em cadeia começam a se conectar, eles criam mini economias de dádivas. E todos nós já experimentamos isso. É como funciona nas famílias — eu não fico contabilizando o que meu pai fez por mim, o que minha mãe fez por mim, quanto custou tudo isso... Seria ridículo. Nós sabemos como isso funciona intuitivamente.

Então podemos criar esses pequenos núcleos onde eu cuido de ti, tu cuidas da pessoa à tua frente, e o que vai, volta — talvez de uma forma diferente, mas retorna.

E eu recebo o círculo de volta justamente por não tratar isso de forma transaccional. Eu recebo os círculos como retorno. Este é o segundo nível.

E se formos ainda mais longe, num nível macro, começamos a criar uma ecologia da dádiva. Onde há imensas partes interligadas entre si, e isso é muito mais poderoso do que uma economia tradicional.


Como se explica isso? Vamos inspirar-nos num exemplo excelente do que aconteceu depois do furacão Katrina: os carvalhos.

O furacão Katrina veio e destruiu tudo — casas, carros, postes de telefone. Tudo ficou devastado, exceto uma coisa: os carvalhos. Estes carvalhos haviam sobrevivido por séculos, e a razão disso era que tinham raízes profundas. Mas não era só isso — essas raízes profundas estavam conectadas às raízes profundas de outros carvalhos. E esses outros carvalhos estavam conectados a outros ainda, às vezes por uma extensão de mais de 160 quilômetros.

Então, quando chega um grande furacão, eu sou sacudido(a). Não consigo lidar com isto sozinho(a). Então eu chamo as minhas raízes — e essas raízes estão interconectadas. E todos começam a oferecer um pouco de si. E, de repente, eu tenho uma resiliência incrível.

E acho que isso é — num nível mais elevado — a ecologia da dádiva: quando começamos a ter essa capacidade sem precedentes, de sermos resilientes diante de tudo o que surge. Não apenas como árvores individuais, mas também como uma união coletiva de árvores.
 

Então a pergunta seria: como criar isso?
Como fazer parte desse tipo de ecologia da dádiva?
Qual é a pequena parte que eu posso fazer?
 

Num primeiro nível, tu podes sair por aí e ser gentil, praticar a gentileza.
Num segundo nível, conecta-te com outras pessoas que também estão a praticar essa gentileza.
Num terceiro nível, como levar isso para o mundo?
 

Um trabalho de amor, não se paga, não se vende. E mais, o facto de ser um acto de amor, de generosidade, deixa as pessoas mais felizes.

Quando questionado pelo Otto Scharmer sobre, em que lugares esta economia está mais viva, tendo em conta que vivemos num mundo sobretudo transaccional, responde:
 

“Acho que a ecologia da dádiva/a/generosidade está mais viva justamente em lugares que são, pelo menos materialmente, mais carentes.
Então, se eu tivesse que ensinar alguém sobre filantropia, eu os levaria para as favelas.
E diria: Aquele homem ali não tem comida suficiente nem para si mesmo,
e ainda assim, a família dele tem uma tradição de alimentar todos os pássaros
que pousam naquela árvore ali fora.

E todos os dias, às 6 da tarde, aquela árvore fica cheia de pássaros, porque aquele homem vai dizer:
"Talvez eu passe fome, mas os pássaros, não."
 

E tu vês exemplos destes. Preciso de fazer isto porque este é o meu compromisso com a generosidade. Isto é amor, inspira-te, dá-te fé. Estas pessoas existem!

Eu acho que apesar de haver ganância em todo o lado, também há generosidade em todo o lado. A generosidade é o antídoto da ganância. Todas as comunidades têm o antídoto.


Fonte: excerto de entrevista com Otto Scharmer - ULab, Presencing Institute e MIT.

Nipun Mehta é o fundador do ServiceSpace, uma comunidade global que atua na interseção entre tecnologia, voluntariado e uma cultura de dádiva. Como idealizador de movimentos sociais em larga escala, enraizados em pequenos atos de serviço e impulsionados por micro momentos de transformação interior, seu trabalho tem catalisado de forma singular redes de construtores comunitários, ancorados em suas localidades e comprometidos com o cultivo de conexões mais profundas — consigo mesmos, com os outros e com os sistemas mais amplos.


 

Veja mais em:

https://nipun.servicespace.org/

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