A Tecnologia não é Feita para o Desenvolvimento de Todos os Territórios e Pessoas

Julho 2023


No âmbito do International Development Summer Course realizado em Junho de 2023 e na Sessão dedicada ao Tema "Conhecimento e Poder - Inovação e Desenvolvimento", David Nemer Professor da Universidade de Virginia e Autor do Livro Tecnologia do Oprimido - Desigualdade e o Mundano Digital nas Favelas do Brasil, sugere que o próprio conceito de "Desenvolvimento" coloca o crescimento económico e a tecnologia no âmago e não serve Direitos essenciais como o Espaço e Liberdade para Ser.
 

Em Tecnologia do Oprimido, David Nemer baseia-se numa extensa etnografia para fornecer um relato de como os moradores da favela se apropriam de diferentes tecnologias para navegar por fontes digitais e não digitais de opressão - e até mesmo, às vezes, prosperar. Com base no trabalho do educador Paulo Freire, Nemer elabora um quadro teórico decolonial e interseccional chamado Tecnologia Mundana para analisar como as tecnologias podem ser simultaneamente espaços de opressão e ferramentas na luta pela liberdade. Nemer também aborda a relação da desinformação com a radicalização e a ascensão da nova extrema direita. Ao contrário da crença tecno-otimista de que a tecnologia salvará os pobres, mesmo com acesso à tecnologia, estas pessoas marginalizadas enfrentam inúmeras fontes de opressão, incluindo preconceitos tecnológicos, racismo, classismo, sexismo e censura. 
 

Não sendo nova esta questão da "apropriação da tecnologia", é preciso relembrar a questão essencial:

Em que medida é que a tecnologia conduz à redução da pobreza?

Se queremos usar tecnologia para gerar liberdade em grupos marginalizados, temos de trazer as pessoas para a mesa de discussão e decisão. O que precisam? Quais os seus objetivos? O que precisam para atingir os seus objetivos?

Quando questionado sobre casos de sucesso em comunidades menos priveligiadas que tenham conseguido sair da pobreza com o apoio da tecnologia. Nemer dá alguns exemplos, salientando sobretudo a "utilidade" e não a consequência causal "sair da pobreza":

- Criação de moeda local, dinamizando comunidades locais;

- Tecnologia de monitorização metereológica que pode apoiar Comunidades a tomar precauções que evitem/minimizem danos catastróficos provocados por tempestades;

- Sensor que permite a identificação de leões na proximidade, permitindo guardar e salvar o gado.

Relembra que este tipo de utilidade é muito específico e local, não gera lucro e não tem por isso investimento. 
 

Joan Schot Fundador e Diretor Académico do Consórcio para a Política de Inovação Transformativa, que integrou também este painel, advoga por um modelo de desenvolvimento baseado nas áreas ambiental e social.

Schot considera que a questão é "Como é que a tecnologia pode conduzir a um novo modelo de desenvolvimento, que seja mais centrado nas áreas ambiental e social? Vivemos num mundo novo com uma crise climática. Há outras prioridades:

- Sair da economia de combustíveis fósseis;

- Sair da economia linear;

- Sair do modelo de alimentação (económico) vigente.

Não é sobre as tecnologias, mas sim sobre o consumo, a mobilidade. Relembra também que já não é relevante o Sul acompanhar o Norte, pois as práticas do Norte não funcionam, como aliás está a vista. As crises que enfrentamos e a desigualdade crescente, resultam de Estratégias definidas sobretudo pelo Norte, pois quando se fala em Comunidade Internacional, fala-se, queiramos ou não, no Ocidente.

David Nemer sublinha também a importância de investirmos na Educação de base. O empoderamento das comunidades locais é o caminho e a Educação tem um papel preponderante. E claro também é preciso repensar os modelos educativos. Para que se possam criar oportunidades nas comunidades menos priveligiadas.

É preciso garantir que as pessoas têm o essencial: Educação, Saúde, Segurança, Alimentação. E só depois podemos seguir para o Desenvolvimento Tecnológico. 

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