A Ubiquidade do Discurso do Trauma
Setembro 2022
Bayo Akomolafe
Autor, Professor, Orador e Poeta.
PhD em Psicologia Clínica, Curador da Plataforma The Emergence Network e Autor dos Livros "These Wilds Beyond our Fences: Letters to my Daughter on Humanity's search for Home e We will tell Our Own Story: The Lions of Africa Speak.
”Durante muito tempo, tenho estado muito atento à ubiquidade do discurso do 'trauma' e ao florescimento concomitante de uma subcultura que se concentra não só na cura como uma resposta e/ou direito auto-evidente e exclusivo, mas também no corpo humano como uma matéria fixa e estática em conformidade com os nossos hábitos de percepção.
Como investigador etnoterapeuta transcultural (por formação) e psicoterapeuta em recuperação (pelas idas e vindas inesperadas de deuses desconhecidos), senti a necessidade de dizer mais sobre as dinâmicas coloniais em acção dentro da disciplina da psicologia: como "fabrica" o seu objecto de análise, como é carregado de valor e composto culturalmente (em vez de ser - como é frequentemente presumido - um vislumbre epistemologicamente superior da "verdadeira natureza" da psique), e como está enredado com uma política de mesmice e controlo. A este último ponto, um caro colega meu - e Professor Emérito de psicologia - vai ao ponto de sugerir que "a psicologia é o polícia do capitalismo".
Com colegas, com anciãos, através dos meus estudos e leituras, juntamente com os meus alunos em salas de aula de pós-graduação, em conversas que tenho o privilégio de ter em todo o mundo, e através de encontros chocantemente generativos com as redes sociais, alimentei a urgência de descentralizar a psicologia ocidental; sinto a necessidade de desfazer as fascinantes histórias do trauma como um conceito, de desnaturalizar o trauma como um projecto de construção do mundo, e de me sentar com o trauma como um imaginário globalizador.
Há alguns meses atrás, compus aqui um pequeno post sobre trauma - mas de uma perspectiva animista, pós-ativista. Terminei o meu post com: "O que se deve notar então é que afinal não somos sujeitos traumatizados, somos sujeitos dentro do trauma. Não temos traumas. O trauma tem-nos a nós".(...)
Um sinal diferente está a agitar a paisagem, ziguezagueando através das fendas, oferecendo uma sugestão frágil aos ouvidos atentos: um outro caminho é possível."