Bayo Akomolafé: As Folhas Secas e as Árvores
Fevereiro 2024
Uma folha seca, marron e murcha ainda presa ao caule sustenta relações marcescentes com a sua árvore.
Marcescência nomeia práticas arborícolas nas quais as folhas desbotadas já não extraem nutrição das suas árvores, e ainda assim, são mantidas no lugar, hipnotizadas no seu murchamento, incapazes de cair enquanto o Inverno uiva a melodia do seu flautista.
Algo sobre marcescência sugere práticas dominantes, especialmente em movimentos orientados para a justiça, de buscar maiores liberdades, maior expressabilidade, maior acesso ou maiores representações dentro de relações que já não alimentam. Dentro de epistemologias que encarceram futuros.
Quando isto acontece, quando os nossos trabalhadores estão exclusivamente preocupados em procurar mais "liberdade", arriscamo-nos a fortificar a dinâmica marcescente. Corremos o risco de reproduzir padrões que excedem o imediatismo das resoluções.
As diferenças transformadoras nem sempre podem estar ligadas à busca de maiores liberdades ou maior estabilidade dentro de mundos familiares.
Muito pelo contrário, parece que é na queda, na descida e na valsa para a terra, que novos mundos potenciais se desenrolam.
Rachaduras pressupõem algum tipo de cativeiro de encruzilhada: Uma tem de ser levada, mudada de forma, riscada e "tomada". Da perspectiva da liberdade marcescente, este desvio pode parecer patologia, como algo a ser consertado, como um desvio infeliz da sociedade adequada.
Mas talvez não haja nada mais promissor (...) do que uma folha que caíu.
A monstruosidade de uma folha caída, arrancada de sua árvore, é uma profecia de florestas que estão por vir.
Bayo Akomolafe, Janeiro 2024