Julho 2023

O trabalho da sua vida é um projeto intergeracional. Isto porque "nós" somos produzidos pelo múltiplo, pelo coletivo, de modo que espremer o significado da vida de alguém no recipiente da sua duração biológica é perder de vista os modos como a morte é generativa, prolífica e até útil para a continuidade. É centrar o ser humano no meio de uma saga cósmica, esquecendo que o ser humano já é mediado de forma extasiante pelo não-humano, depende dele e está ligado a ele.

Pensar nas nossas vidas como nossas é renunciar à nossa responsabilidade perante os nossos antepassados, que muitas vezes precisam de "cura" e continuam a produzir efeitos.
 

Os nossos corpos são corpos compridos, corpos largos, espalhados, espaço e tempo peculiares; o vosso fracasso, a vossa confusão, pode muito bem ser o solo nutrido que extrai novas possibilidades da terra; o nosso trabalho é longo, invulgar e está sempre por revelar. Os confins anoréxicos dos ativismos tradicionais não conseguem compreender isto, nem apreciar a razão pela qual muitos se sentem agora convidados a apoiarem-se nas cercas da ação convencional e inteligível - mesmo que isso signifique serem considerados loucos.

O trabalho da sua vida é um projeto intergeracional, uma conspiração ancestral, um encontro contínuo de corpos, uma peculiaridade da temporalidade. A tua vida não é tua para resolver, para completar ou para conter. Ela é necessariamente a vida de muitos. Agradece os lugares esgarçados da tua vida, pois isso dá aos muitos que ainda estão para vir algo com que coser os seus.

Bayo Akomolafe