Vulnerabilidade não é Ganhar ou Perder

Maio 2022
 

Brené Brown

Professora, Investigadora e Autora, conhecida por estudar e escrever sobre Vulnerabilidade, Vergonha e Liderança

Excerto do Livro "A Força da Coragem" Edição 2016
 

"(...) Para mim, a citação de Roosevelt que serve de âncora à minha investigação sobre a vulnerabilidade e a vontade de ousar, deu origem a três verdades:
 

Eu quero estar na arena. Eu quero ser corajosa na minha vida. E quando optamos por ousar com grandeza, é o mesmo que inscrevermo-nos para levar uma tareia. Podemos optar pela coragem ou pelo conforto, mas não podemos ter ambos. Não ao mesmo tempo.

Vulnerabilidade não é ganhar ou perder: é ter a coragem de se expôr e ser visto quando não temos controlo sobre o resultado. A vulnerabilidade não é fraqueza, é a nossa maior demonstração de coragem.

Muitos dos lugares baratos na arena são ocupados por aqueles que nunca se atrevem a avançar. Quem ocupa estes lugares limita-se a lançar de uma distância segura críticas mesquinhas e desmoralizadoras. O problema é que, quando deixamos de nos importar com o que os outros pensam e deixamos de nos sentir feridos pela crueldade, perdemos a nossa capacidade de conexão. Mas quando somos definidos pelo que os outros pensam, perdemos a coragem de ser vulneráveis. Como tal, temos de ser selectivos quanto ao feedback que deixamos entrar na nossa vida. Para mim, se você não está na arena a levar uma tareia, não estou interessada no seu feedback.

(...) verdades simples mas poderosas que nos ajudam a perceber por que motivo a coragem é simultaneamente transformacional e rara. 
 

1. Se formos suficientemente corajosos e se o formos com alguma frequência, havemos de cair: esta é a física da vulnerabilidade. Quando aceitamos expôr-nos e arriscar-nos a cair, estamos, na realidade, a aceitar que vamos cair. Ousar é dizer: "Eu sei que hei-de cair, mas continuo a querer fazê-lo." A sorte pode favorecer os audazes, mas o fracasso também.

2. Assim que caímos, porque quisemos ser corajosos, não há como voltar atrás. Podemos levantar-nos dos nossos fracassos, asneiras e quedas, mas nunca podemos regressar aonde estávamos antes de sermos corajosos ou antes de cairmos. A coragem transforma a estrutura emocional do nosso ser. Esta mudança traz com ela, muitas vezes, uma profunda sensação de perda. Durante o processo de recuperar a força, damos por nós, por vezes, com saudades de um lugar que deixou de existir. Queremos regressar àquele momento antes de entrarmos na arena, mas não há para onde regressar.

O que torna tudo isto mais difícil é que, agora temos um novo nível de consciência a respeito do significado de ser corajoso (...) Agora sabemos quando estamos a expôr-nos e quando estamos a esconder-nos, quando estamos a viver os nossos valores e quando não estamos.


A nossa nova consciência também pode ser revigorante - pode reacender a nossa noção de objectivo e recordar-nos o nosso empenho na sinceridade. Enfrentar a tensão que se encontra entre o querer voltar ao momento antes, em que nos arriscámos a cair, e o sermos puxados para uma coragem ainda maior, é uma parte incontornável de recuperar a força. 
 

(...) A coragem é contagiosa. Recuperar a força muda-nos, não só a nós, mas também as pessoas que nos rodeiam. A nossa história pode afectar profundamente as pessoas que nos rodeiam, quer tenhamos consciência disso, quer não. O frade franciscano  Richard Rohr escreve o seguinte: "Depois de uma experiência verdadeiramente iniciática, sabemos que fazemos parte de um todo muito maior. A partir de então a vida deixa de girar à nossa volta, nós é que giramos à volta dela".

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